As discussões sobre os efeitos nocivos das redes sociais vem ganhando cada vez mais espaço. Ainda assim, uma pergunta não quer calar: por que não conseguimos parar de rolar o feed?
Pensando nisso, a CNN entrevistou o psicólogo Cristiano Nabuco, pioneiro nos estudos das Dependências Tecnológicas no Brasil e à frente da Associação Matera, para responder a essa pergunta e trazer dicas para que esse hábito seja deixado para trás.
Por que não conseguimos parar de rolar o feed?
Reação do cérebro
Criado pelo norte-americano Aza Raskin, a rolagem infinita tinha como objetivo melhorar a experiência do usuário ao navegar pela interface de dispositivos eletrônicos em vez da paginação. Ela se tornou popular com o advento dos smartphones a partir da década de 2010.
Com o boom das redes sociais, como Facebook, Twitter (atualmente chamado de X), Instagram, entre outros, o modelo de rolagem infinita foi adotado como a navegação padrão.
Porém, se o objetivo era apenas melhorar a experiência do usuário, ou seja, trazer benefícios a ele, o que se sabe é que uma carga de malefícios podem ser atribuídos a esse modelo de navegação – o que fez, inclusive, Raskin expor sua frustração com a própria criação em diversas entrevistas.
“Ao rolar a barra [do feed], a pessoa tem contato com novas informações, notificações e curtidas. Isso ativa o sistema dopaminérgico, neurotransmissor ligado à sensação de recompensa que a condena”, explica Nabuco. De acordo com o especialista, a reação é semelhante à que acontece com jogos de azar e substâncias químicas.
A liberação da dopamina faz com que o processo escale. Então, na próxima rolagem, espera-se alguma coisa e de maneira progressiva. Outra coisa que está envolvida também é a recompensa intermitente, como uma máquina de caça níquel: mesmo que você não ganhe, continua puxando e puxando. Há expectativa de encontrar alguma coisa bacana
Cristiano Nabuco, psicólogo e especialista em dependências tecnológicas
Imposição das redes sociais
Além do aspecto bioquímico, há um segundo que diz respeito ao modo impositivo de consumo de conteúdo praticado pelas redes sociais. “Temos aquele autoplay para vídeos que começam a funcionar antes mesmo de se ter dado o OK. Ou seja, quem decide [o consumo do conteúdo] não é você, mas a plataforma.”
Nabuco também destaca as notificações constantes que geram gatilhos de urgências. “Todos esses processos fazem com que as pessoas entrem em uma escalada onde se desconectar e parar de rolar o feed seja quase impossível.”
Como parar, então? Veja 5 dicas do psicólogo
Diante desses desafios, Nabuco sugere algumas práticas que podem ajudar a diminuir o hábito de rolar o feed:
1. Estabelecer horários sem telas
Entre 30 minutos e 1 hora antes de dormir, o ideal é que o smartphone ou qualquer outro dispositivo seja desligado para que a luminosidade não atrapalhe o sono e a mente comece a relaxar.
2. Ativar alertas de tempo de uso
As próprias redes sociais possuem ferramentas que monitoram quanto tempo foi gasto nelas. Existem aplicativos que também fazem esse controle e podem ajudar a entender como as horas do dia e da semana são dedicadas à internet.
3. Não usar as redes sociais como fuga
Conforme Nabuco aponta, as redes sociais podem ser usadas em momentos de relaxamento ou em pequenas pausas do dia a dia. Porém, elas não devem ser utilizadas como válvulas de escape.
“Parou o seu trabalho, foi ao banheiro, tomou um café… Pode dar uma olhadinha. O que não pode fazer é usar as redes e as telas como se fossem o cigarro de antigamente. Ou quando não tem nada que fazer, abri-las. Isso começa a alterar toda a dinâmica cerebral.”
4. Mudar apps importantes para a segunda tela
Essa dica está relacionada a criar obstáculos para acessar aplicativos muito usados. Isso porque, ao deixá-los na primeira tela, as bolinhas vermelhas podem ativar gatilhos de urgências. Na segunda tela, permite-se que o cérebro não fique ansioso para ver qual é a informação.
5. Modo não perturbe e em outro ambiente
Especialmente em ocasiões em que a concentração é muito demandada, a recomendação é que o eletrônico permaneça no modo não perturbe e, de preferência, em outro ambiente que a pessoa.
“Mesmo com aparelho ao lado sem utilizá-lo, a capacidade de atenção diminui em quase um terço. [Nesses momento], deixe o telefone em outro local. Ao terminar, quando estiver relaxado, pode pegá-lo.”
Fonte: www.cnnbrasil.com.br