O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) revelou novos detalhes sobre a evolução do crime organizado e suas estratégias para lavar dinheiro dentro do sistema financeiro formal.
Em entrevista coletiva nesta terça-feira (25), o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), destacou a infiltração criminosa nas estruturas do Estado e a necessidade de um controle mais rigoroso sobre instituições financeiras.
Segundo Gakiya, a influência do crime organizado sobre agentes públicos tem sido um fator determinante para sua expansão:
O que causou desconforto para nós é a infiltração do crime nas estruturas do Estado. Vários policiais foram denunciados por nós – civis, militares – e estavam envolvidos, também, com a lavagem de dinheiro. A presença desse braço corrupto do Estado é o meio para o crime manter seus objetivos. Sem essa infiltração, o PCC não teria atingido o status que tem hoje. O Estado precisa promover as medidas necessárias para prender esses agentes
Lincoln Gakiya, promotor de Justiça do GAECO
A coletiva aconteceu após o término da Operação Hydra, deflagrada nesta manhã, contra duas fintechs suspeitas de lavar dinheiro do PCC.
O policial civil Cyllas Elia Junior foi preso na ação. Ele é CEO da 2GO Bank, uma das instituições financeiras delatadas por Gritzbach. A outra fintech é a InvBank.
Elia Junior também já havia sido preso em novembro de 2024 por uma ligação de lavagem de dinheiro para criminosos chineses. Veja aqui quem é o policial civil preso.
Lavagem de dinheiro e uso do sistema financeiro
Outro ponto de alerta levantado pelo promotor é a crescente atuação do crime organizado dentro do mercado financeiro. Gakiya afirma que facções têm utilizado métodos sofisticados para dar aparência de legalidade ao dinheiro obtido de forma ilícita, aproveitando brechas na fiscalização. “O crime organizado tem montado seus próprios bancos. Espanta sim a evolução do crime organizado”, disse.
O promotor enfatizou a importância de manter a fiscalização rigorosa sobre bancos e meios de pagamento digital, evitando flexibilizações que possam facilitar operações ilícitas.
“Desburocratizar os bancos e pagamentos digitais não pode significar perder de vista as obrigações e deveres de controle dessas instituições. Quando você aceita dinheiro do crime e pulveriza em contas de terceiros, o setor carece de melhor fiscalização e regulamentação”, alertou.
As declarações reforçam a preocupação das autoridades com o avanço do crime organizado para além do tráfico de drogas e crimes violentos, atingindo setores estratégicos da economia e do Estado. A expectativa é que novas medidas sejam implementadas para combater essa estrutura criminosa e impedir sua crescente influência no sistema financeiro.
Operação contra fintechs
A ação desta terça-feira (25) buscava cumprir um mandado de prisão e dez de busca e apreensão nas sedes das companhias e em endereços de seis pessoas que trabalham nas fintechs.
Os mandados foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo. A Justiça também determinou o bloqueio de valores em oito contas bancárias e a suspensão temporária das atividades econômicas das instituições financeiras envolvidas.
A investigação do GAECO e da PF aponta que as duas fintechs foram utilizadas para ocultar recursos ilícitos da facção com tráfico de drogas, organização criminosa e outras atividades ilegais. As empresas movimentavam valores ilegais por meio de sofisticados mecanismos financeiros para esconder a procedência e beneficiários reais.
Segundo os investigadores, as fintechs encaminhavam os depósitos para contas de “laranjas”, as quais tinham total controle.
O inquérito do MP aponta que o PCC lavou cerca de R$ 6 bilhões por meio das duas instituições financeiras investigadas, a 2GO Bank e a InvBank, utilizando mecanismos financeiros “sofisticados” para ocultar a origem e os beneficiários dos recursos,
A operação desta terça é um desdobramento da delação do empresário Vinícius Gritzbach, assassinado no Aeroporto de Guarulhos em novembro de 2024.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br