Trump viola ordem constituída no Ocidente, avalia Hussein Kalout

O cientista político e pesquisador de Harvard, Hussein Kalout, em entrevista ao WW Especial desse domingo (2), apresentou uma análise contundente sobre a postura do ex-presidente Donald Trump em relação aos aliados europeus dos Estados Unidos. Segundo Kalout, Trump está promovendo uma ruptura significativa na ordem estabelecida no Ocidente desde o pós-Segunda Guerra Mundial.

De acordo com o especialista, Trump está “violando a ordem constituída no Ocidente” e a “ordem de parceria” entre os Estados Unidos e a Europa. Kalout explica que, historicamente, essa relação era caracterizada por uma abordagem horizontal, baseada em interesses mútuos e consenso, especialmente após a queda do Muro de Berlim.

Nova dinâmica de poder

O pesquisador destaca que Trump está tentando redimensionar essa dinâmica de poder. “É uma relação hoje verticalizada, é uma relação patronal. Eu sou o patrão, vocês são os meus serventes, eu sou mais forte do que vocés”, afirma Kalout, interpretando a postura de Trump.

Esta nova abordagem, segundo o cientista político, implica que os Estados Unidos, sob a liderança de Trump, não estão mais interessados em consensuar os interesses do Ocidente com os aliados europeus. Ao invés disso, Trump busca determinar unilateralmente quais são os interesses do hemisfério ocidental, esperando que os europeus simplesmente concordem.

Impacto nas negociações com a Rússia

Kalout ressalta que essa mudança de postura fica evidente no processo de negociação com a Rússia. Trump, segundo o pesquisador, ignora completamente a percepção europeia sobre a arquitetura de segurança do continente. Em vez de buscar um consenso com países como França, Alemanha, Reino Unido e Polônia, o ex-presidente americano opta por negociações diretas com o presidente russo Vladimir Putin.

“Ele senta diretamente one on one com Putin e impõe uma nova doutrina de relacionamento com os países europeus”, explica Kalout, sublinhando a natureza unilateral dessa abordagem e suas potenciais implicações para o equilíbrio geopolítico no Ocidente.