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Aborto e barriga de aluguel: a postura de Francisco ao longo do pontificado

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Ao longo de seu pontificado, o papa Francisco mostrou uma postura firme sobre questões como aborto e “barriga de aluguel”, alternando entre a defesa da vida e o acolhimento pastoral, gerando debates acalorados dentro e fora da Igreja Católica.

No ano em que se tornou papa, em 2013, Francisco criticou o que chamou de “obsessão” da Igreja com gays, aborto e a contracepção.

Em uma entrevista à revista jesuíta Civiltà Cattolica, em 19 de agosto daquele ano, o pontífice afirmou que a Igreja precisa encontrar um equilíbrio entre a preservação das regras e o exercício da misericórdia.

Segundo a revista, o papa disse que a Igreja “se fechou em coisas pequenas, em regras tacanhas” e que não deveria ser tão ávida em condenar os outros.

“Do contrário, até o edifício moral da Igreja deve cair como um castelo de cartas”, afirmou Francisco à publicação.

As palavras, consideradas progressistas, foram recebidas com entusiasmo por católicos liberais, mas geraram descontentamento na ala mais conservadora do Vaticano.

Em janeiro de 2014, Francisco fez uma declaração que foi considerada um aceno aos conservadores, que frequentemente o criticavam por não condenar o aborto de forma tão dura como os papas anteriores.

“É horrível até mesmo pensar que há crianças, vítimas do aborto, que jamais verão a luz do dia”, disse Francisco em um pronunciamento anual a diplomatas no Vaticano.

Apesar da condenação firme ao aborto, Francisco trouxe abordagem pastoral e acolhedora. Em novembro de 2016, o pontífice concedeu a todos os padres a possibilidade de absolver fiéis arrependidos que realizaram a prática.

“Não há pecado que a misericórdia divina não possa alcançar e sanar quando encontra um coração arrependido que busca se reconciliar [com Deus]”, escreveu Francisco em um documento conhecido como “carta apostólica” após o encerramento do chamado “Ano Sagrado da Misericórdia” da Igreja.

A decisão foi considerada um passo significativo na direção de tornar a Igreja Católica mais inclusiva.

Papa Francisco se reúne com crianças antes de cúpula sobre Direitos das Crianças no Vaticano. • Reprodução/Reuters

Em 28 de janeiro de 2019, durante uma entrevista no voo de volta do Panamá, Francisco disse: “No confessionário compreendi o drama do aborto”.

Ele acrescentou “Às mulheres que têm esta angústia eu digo: o teu filho está no céu, fale com ele, cante para ele aquela canção de ninar que não você não conseguiu cantar.”

Em maio de 2019, o papa disse ser contra o diagnóstico pré-natal, realizado para identificar eventuais problemas no feto. Ele reiterou que a vida humana é inviolável.

As afirmações ocorreram quando recebeu os participantes na conferência “Yes to life! Prendersi cura del prezioso dono della vita nella fragilità” (“Sim à vida! Cuidar do dom precioso da vida na fragilidade”, em português).

Segundo Francisco, a cultura do desperdício impõe a ideia de que crianças frágeis são incompatíveis com a vida, “condenadas à morte”.

O papa pediu para evitar “o aborto voluntário e o abandono de muitas crianças com patologias graves ao nascer”.

Existem “intervenções farmacológicas, cirúrgicas e assistências extraordinárias”, explicou Francisco, “terapias fetais” e “Hospices Perinatais” (Perinatal Hospice, em inglês) que obtêm resultados surpreendentes, dando apoio às famílias.

Francisco e a legalização do aborto na Argentina

Em 2021, a Argentina, país de origem de Francisco, legalizou o aborto voluntário até 14 semanas de gestação, após o Senado aprovar a lei em dezembro de 2020.

Antes da aprovação, o papa respondeu a uma carta de um grupo de mulheres argentinas que luta contra o direito ao aborto.

No texto, de 22 de novembro de 2020, Francisco reitera a “importância de proteger a vida contra a legalização do aborto na Argentina”, segundo o portal Vatican News.

A carta assinada por Francisco “agradece de coração” o esforço do grupo contrário ao aborto e expressa admiração “por seu trabalho e seu testemunho”, e ainda as encoraja a “seguir em frente”.

Protesto por legalização do aborto na Argentina
Militantes defendem a aprovação do aborto na Argentina. O verde é a cor-símbolo da campanha pela legislação no país. • Foto: Reprodução/Twitter @florenciacanali

Em trechos divulgados pelo Vatican News, o papa diz que a Argentina “se orgulha de ter mulheres assim”.

Por fim, o texto do pontífice ainda declarou que “o problema do aborto não é principalmente uma questão de religião, mas de ética humana, antes mesmo de qualquer confissão religiosa”.

Em julho de 2022, o papa Francisco comentou a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de derrubar o direito constitucional ao aborto no país.

Em entrevista à agência Reuters, ele disse respeitar o veredicto da Corte, porque não entendia se era certo ou errado de um ponto de vista jurídico.

O pontífice completou, no entanto, dizendo ser preciso olhar para a questão do ponto de vista científico: “A ciência hoje e qualquer livro de embriologia, aquele estudado pelos estudantes de medicina, nos diz que 30 dias após a concepção existe DNA e a disposição dos órgãos”, disse ele.

Francisco ainda acrescentou que “a questão moral é se está certo tirar uma vida humana para resolver um problema. De fato, é certo contratar um matador para resolver um problema?”

Em 29 setembro de 2024, Francisco enfatizou o posicionamento em relação ao tema. Em uma coletiva de imprensa na volta de uma viagem à Bélgica, o pontífice afirmou que médicos que praticam aborto são “assassinos pagos”.

“As mulheres têm direito à vida, à sua vida e à vida dos seus filhos. No entanto, aborto é assassinato, se mata um ser humano e os médicos que fazem isso são, me permitam a palavra, sicários. E não se pode discutir sobre isso”, afirmou o papa Francisco.

Francisco e a visita à ativista favorável ao aborto

Em novembro de 2024, Francisco foi à casa da política italiana Emma Bonino, ativista famosa na Itália pela campanha bem-sucedida na década de 1970 para legalizar o aborto no país.

Não há detalhes sobre a conversa entre os dois.

O papa Francisco e Emma Bonino sempre pensaram diferente sobre o aborto, mas têm o mesmo ponto de vista sobre a paz e a acolhida de imigrantes.

Os dois se encontraram em diversas ocasiões. O primeiro encontro foi em 4 de novembro de 2015, quando a ex-ministra das Relações Exteriores participou da audiência geral de quarta-feira no Sala Paulo VI.

Na ocasião, Bonino apresentou iniciativas em favor das crianças refugiadas da fundação “La fabbrica della pace” (A fábrica da paz, em português). No mesmo ano, o papa telefonou para a política que sofria de câncer de pulmão para perguntar sobre suas condições de saúde.

Em 8 de novembro de 2016, o papa recebeu Bonino em audiência privada no Palácio Apostólico. A Sala de Imprensa do Vaticano informou na época que “a conversa centrou-se sobretudo nas questões dos fluxos migratórios, da acolhida dos migrantes e da sua integração”.

Justamente por seu trabalho em favor dos migrantes, Francisco havia elogiado a parlamentar durante um encontro informal na Casa Santa Marta com o diretor do Corriere della Sera Luciano Fontana, também em 2016.

Francisco disse na ocasião que Emma Bonino “ofereceu o melhor serviço à Itália por conhecer a África”.

Postura rígida contra “barriga de aluguel”

Ao longo do pontificado, o papa Francisco fez duros posicionamentos com relação à prática conhecida como “barriga de aluguel”, quando uma mulher aceita gerar uma criança que será criada por outra pessoa ou casal.

Em janeiro de 2024, o pontífice pediu a proibição global da barriga de aluguel, chamando a prática de “deplorável” e “grave violação”.

“Considero deplorável a prática da chamada maternidade por barriga de aluguel, que representa uma grave violação da dignidade da mulher e da criança, com base na exploração de situações de necessidades materiais da mãe”, disse Francisco durante um discurso de 45 minutos para diplomatas credenciados pelo Vaticano.

O posicionamento reacendeu tensões com setores progressistas, especialmente, entre grupos LGBTQIA+, para os quais a prática é uma alternativa na constituição de famílias.

Fonte: www.cnnbrasil.com.br

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