Nesta quinta-feira (23), o filme “Ainda Estou Aqui” fez história ao colocar o Brasil pela primeira vez na lista de indicados na categoria de “Melhor Filme” do Oscar.
Concorrendo em três categorias diferentes, a trama, dirigida por Walter Salles, é uma adaptação do livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva sobre o próprio pai, Rubens Paiva, ex-deputado federal que foi preso e morto durante a ditadura militar.
As indicações ocorreram dois dias da data de morte de Rubens Paiva, falecido em 21 de janeiro de 1971, no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), do Rio de Janeiro, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade.
Nas redes sociais, o ator Selton Mello, que protagoniza o ex-deputado na obra cinematográfica, comemorou a indicação.
“Fizemos um filme. Ele nasceu vitorioso por motivos variados: por lembrar o que jamais pode ser esquecido, por comover com uma beleza austera, por encher as salas de cinema de novo, por levar nossa sensibilidade para o mundo”, vibrou o ator. “Nosso país precisava desse filme, o mundo precisava desse filme”, completou Selton. “Ainda estamos aqui, Eunice, Rubens, nós & vocês”, escreveu o artista.
Atuação política
Rubens Beyrodt Paiva, nascido em 1929, foi eleito deputado federal em 1962 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Era casado com Eunice Pacciolla Paiva – interpretada pela atriz Fernanda Torres no filme – e tinha cinco filhos: Vera, Maria Eliana, Ana Lúcia, Marcelo e Maria Beatriz.
Rubens se destacou como vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). Eles investigavam o financiamento de grupos que conspiravam contra o governo do então presidente da República, João Goulart.
Por conta desse trabalho, foi incluído na lista dos primeiros políticos cassados no golpe militar.
A partir da cassação, se exilou na Embaixada da Iugoslávia, em junho de 1964, e partiu rumo à França e, posteriormente, para Inglaterra.
O ex-deputado voltou ao Brasil, mas foi preso em 20 de janeiro de 1971, depois que cartas de militantes políticos exilados no Chile foram encontradas.
Sumiço e morte
Depois do dia 20 de janeiro, quando foi preso, Rubens Paiva nunca mais foi visto.
O filme mostra a aflição da família que ficou sem respostas. O corpo do ex-deputado nunca foi encontrado.
Na versão oficial do Exército brasileiro, ele teria sido sequestrado por militantes enquanto era transferido pelos oficiais.
Em 2012, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), instituída em 2012 pela ex-presidente Dilma Rousseff, apresentou documentos e depoimentos que atestaram a entrada de Rubens Paiva no DOI-CODI, em 20 de janeiro de 1971, provando que o político foi torturado e morreu devido a gravidade dos ferimentos.
Oficialização e reconhecimento
Foi só em 1996 que o Estado brasileiro oficializou a inclusão de Rubens Paiva na lista de desaparecidos. Foi quando a família finalmente recebeu uma certidão de óbito.
Em 2014, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou cinco militares pelo crime, com acusações que incluíam homicídio, ocultação de cadáver, associação criminosa e fraude processual.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br