Governador do Espírito Santo criticou duramente atuação do presidente diante da crise da Covid-19
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- fonte: https://seculodiario.com.br/
Numa entrevista concedida pela internet ao economista Eduardo Moreira, o governador do Espírito Santo Renato Casagrande (PSB) teceu duras críticas ao presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) diante da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Para o mandatário capixaba, a política dos governadores brasileiros tem se sobressaído especialmente por conta do estilo do presidente, num comportamento que não é diferente do que Bolsonaro apresentava nos seus quase 30 anos como deputado no Congresso Nacional. “Ele não trabalha coordenando e buscando o consenso”, diz Casagrande, que atuou como deputado federal e senador em paralelo com o atual presidente. “Ninguém podia imaginar um comportamento muito diferente”, considerou.
No entendimento de Renato Casagrande, “ele enfrenta um conflito criando um outro conflito maior”, disse, citando não só o coronavírus mais outras situações anteriores como a crise do preço dos combustíveis. “O presidente ao invés de buscar os governadores para um consenso acabou fazendo um enfrentamento aos governadores”, criticou. Os gestores estaduais, porém, estavam articulados e fortalecidos por meio dos encontros do Fórum de Governadores e também dos consórcios regionais que trabalham pelo desenvolvimento das regiões. “O estilo do presidente fez com que os governadores dessem um passo adiante e assumissem um papel protagonista, seja na relação com o próprio governo, seja na relação com o Congresso Nacional”, afirmou sobre a aparente perda de poder do líder máximo do país.
Para o governador, Bolsonaro ainda não assumiu com a clareza necessária o papel que deve ter diante da crise de alcance mundial, já que os estados podem amenizar o impacto, mas não têm localmente todos instrumentos para enfrentá-la como o governo federal, que tem capacidade de emitir títulos e moeda e aumentar seu déficit.
Casagrande entende que o presidente dá sinais trocados, o que confunde a população e impede a efetivação de forma rápida das medidas necessárias diante do efeito diário de crescimento da pandemia. Embora reconheça a boa atuação de alguns ministros e medidas positivas anunciadas nacionalmente, esses sinais contraditórios e a burocracia da administração pública têm retardado a implementação das mesmas.
Durante a entrevista, o chefe do Executivo do Espírito Santo criticou o fato de Bolsonaro tratar todos os assuntos como enfrentamento político e defende que esse tema, que trata da proteção da vida da população, deveria se dar com definição de um rumo e trabalho na mesma direção, especialmente agora que o vírus entra numa fase de contágio de pessoas mais vulneráveis e que, conforme sua expansão, pode colapsar o sistema de saúde como acontece em outros países.
Na conversa com Eduardo Moreira, transmitida ao vivo por vídeo, Renato Casagrande admitiu que teve que adotar medidas que jamais havia pensado tomar na vida, como fechamento do comércio, suspensão das aulas e pedidos para que a população ficasse em casa. Porém, as entende como medidas que provocam “um choque de realidade” na população, já que além de evitar aglomerações sinalizam que vivemos num momento excepcional que exige esforços individuais e coletivos para ser superado da melhor maneira possível.
Considera fundamental conhecer o comportamento do vírus e sua velocidade de expansão no Estado, usando modelos matemáticos que possam prever o pico de contágio para preparar o sistema de saúde e evitar seu colapso. Além das medidas de saúde, Casagrande falou das iniciativas no âmbito social e econômico de seu governo.
Provocado pelo entrevistador, ainda defendeu o Estado brasileiro como instrumento de bem-estar social e para um desenvolvimento equilibrado nos momentos de crise, criticando um “liberalismo extremo”, defendido por setores de muita riqueza e patrimônio, que criticam o Estado mas o procuram imediatamente para se proteger no momento de crise, e depois voltam a condená-lo com veemência. “Eu confio muito que pessoas médias da sociedade brasileira que se contaminaram com um discurso ultraliberal possam repensar sua posição e compreender o papel do Estado”, afirmou.
Renato Casagrande ainda apontou a desigualdade como principal problema do país e alertou que ela deve aumentar diante dos efeitos da pandemia do novo coronavírus. “Que a gente possa aproveitar essa crise para ir juntando os brasileiros que têm de fato coragem de enfrentar a desigualdade social neste país”, concluiu.
A entrevista completa pode ser vista no YouTube.