Corpos do casal estavam nus e enrolados em lençóis em uma casa em Birigui. Vítimas de 21 e 22 anos foram assassinadas a facadas
Por Cilla Andrade | FOLHA DA REGIÃO
“Estamos desolados, meu irmão morreu e ficamos sabendo da morte dele pelas redes sociais. Ninguém ligou para informar a família sobre a morte do meu irmão caçula”. A fala é de uma mulher em entrevista à Folha da Região, na manhã desta sexta-feira, 24, algumas horas depois da família de Jimmy Pereira da Silva, de 21 anos, ter reconhecido o corpo dele no IML (Instituto Médico Legal) de Birigui.
Jimmy da Silva e Caroline Batista Froes, 22 anos, foram assassinados a facadas e seus corpos foram encontrados na tarde dessa quinta-feira, 23, por volta das 16h, em uma residência no bairro Parque das Nações, em Birigui, cerca de 20 km de Araçatuba. Suspeita-se de que o crime tenha ocorrido na madrugada, devido à aparência cadavérica.
Os corpos dos dois jovens foram encontrados com perfurações profundas na área do pescoço e estavam parcialmente degolados. Jimmy, segundo divulgado, estaria mais machucado e apresentava mais perfurações pelo corpo.
A polícia tenta entender a motivação do crime bem como a autoria. O casal estava em uma edícula, nos fundos de um terreno, na rua Severo Xavier Soares, em Birigui. Eles não moravam no local. Os verdadeiros moradores – um casal também – não foram encontrados.
O encontro dos corpos aconteceu a partir da ligação de uma mulher para a Polícia Militar, dizendo que havia recebido um telefonema do cunhado dela, informando que ele “havia matado um cara” a facadas e deixado o corpo na residência.
Quando a polícia chegou ao endereço informado, constatou a existência de dois corpos enrolados em um lençol, com um colchão sobre eles. O local precisou ser preservado até a chegada das equipes da Polícia Civil e da Polícia Científica, para que periciassem o local do crime.
Cortes feitos por faca
As primeiras informações apareceram logo que os corpos foram removidos do quarto. Com a chegada dos peritos, as vítimas foram levadas até a sala da residência, desenrolados do lençol e foi constatada uma cena de brutalidade: os dois estavam nus.
Caroline Batista tinha um corte profundo na garganta. Segundo o que foi apurado, a mulher também apresentava uma secreção vaginal, o que a perícia entende que pode estar relacionado a uma relação sexual recente.
Já o corpo de Jimmy, além de um corte profundo na região do pescoço, apresentava diversos outras perfurações no peito. De acordo com relatos, um detalhe chamou a atenção dos agentes, durante o colhimento de provas: toalhas estavam enroladas nos cortes dos pescoços das vítimas. Provavelmente, quem executou o crime queria evitar que o sangue se espalhasse.
No local, a polícia recolheu sacos de lixo com roupas sujas de sangue. Em um desses sacos, uma bolsa de couro feminina foi encontrada. Presume-se que a bolsa pertença à jovem morta, porque a polícia encontrou os documentos pessoais dela. Os documentos do jovem também foram encontrados, e estavam em uma carteira dentro do mesmo saco de lixo.
Moradores da edícula e frequentadores estranhos
De acordo com a polícia, a dinâmica de frequentadores da casa levantou suspeita e faz parte do quebra-cabeça para entender o que aconteceu no dia do crime que vitimou o casal, que não morava no local.
O pai da verdadeira moradora vive em uma casa em frente ao local do crime, que fica no mesmo terreno. Ele teria relatado aos policiais que mora ali há mais de 30 anos e, há poucos meses, permitiu que a filha e o namorado dela passassem a morar na edícula dos fundos.
Ele contou que viu a filha e o namorado pela última vez na terça-feira, 21, quando pediu para que ela fosse comprar comida. De acordo com o homem, a moradia do casal era frequentada por outras pessoas que ele não conhecia.
O pai da moradora da edícula revelou ainda que na tarde de quarta-feira, 22, encontrou roupas de outro homem espalhadas pela casa e que havia uma mala – que desapareceu -, contendo as roupas desse indivíduo. Há a suspeita de que tenha sido levada pelo genro.
Hematomas
Os policiais conversaram também com outra testemunha, a irmã da mulher que mora na edícula. Segundo ela, por volta das 11h de quarta-feira, a irmã estava com um comportamento estranho e tinha marcas de murros no olho e na boca. Ao ser questionada sobre os hematomas, teria dito que não era nada e não deu detalhes do que havia ocorrido.
Quando os corpos foram localizados, o dono da casa tentou contato com a filha e o namorado, mas sem sucesso. De acordo com o que foi apurado, eles não atendiam as ligações e desabilitaram a função de leitura do WhatsApp.
Exames
Os corpos das vítimas foram encaminhados ao IML de Araçatuba, onde passariam por exames necroscópicos. Há uma solicitação de que seja realizada coleta de material para exame toxicológico, para saber se houve ou não consumo de drogas; de material subungueal, exame que detecta amostra de pele debaixo das unhas; e exame sexológico no corpo da jovem.
Saiu e não voltou
Ouvida pela reportagem da Folha da Região, uma irmã de Jimmy contou que a família só ficou sabendo da morte pelas redes sociais na noite de ontem. Segundo ela, as informações sobre o que aconteceu ainda são desencontradas.
De início, a família foi informada de que seria um acerto de contas e depois havia chegado a informação de que um ex-companheiro de Caroline seria apontado como o autor dos assassinatos. Segundo a irmã da vítima, a família está desolada e acompanha as investigações de perto.
À reportagem, a mulher contou que ninguém da família conhecia a jovem encontrada com Jimmy. Disse que o jovem teria dito à mãe, na terça-feira, que iria ajudar uma mulher de nome Camila em uma mudança na casa dela. A irmã completou que o endereço que ele passou não era o mesmo onde o corpo foi encontrado.
“Ele saiu de casa na noite de terça-feira e disse que iria ajudar uma amiga, que era uma advogada de nome Camila, que estaria fazendo uma mudança. Achamos estranho, porque depois que ele foi encontrado, tentamos procurar essa Camila, e não achamos nada dela. O que sabemos até agora é que a moça encontrada com ele havia terminado o namoro com o ex há cerca de quatro meses, e nós não sabíamos se eles estavam se conhecendo… Pegaram eles dormindo, nossa família está destruída”, finalizou a irmã do jovem.
Jimmy Pereira era o caçula de quatro irmãos, tinha acabado de completar 21 anos e trabalhava em shows como DJ. Já Caroline Batista trabalhava como maquiadora e divulgava seus trabalhos de maquiagem e design de sobrancelhas nas redes sociais.
O corpo de Jimmy, assim que for liberado para a família, será enterrado em Birigui, por volta das 13h desta sexta-feira. O local não foi divulgado e não haverá velório por conta dos machucados pelo corpo.
A reportagem não conseguiu retorno sobre os trâmites da despedida de Caroline.