Especialistas repercutem tom do comunicado e analisam como o mercado deve reagir nesta quinta na abertura
Nesta quarta (11), o COPOM elevou a taxa de juros Selic em 1,00 ponto e afirmou em comunicado, considerado hawkish por especialistas, que prevê mais altas da mesma magnitude.
Os especialistas abaixo analisaram o tom do comentário divulgado hoje. Confira:
Marcelo Bolzan, CGA, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital
Tivemos uma alta de 1% nessa última reunião presidida aqui pelo Roberto Campos Neto. O mercado estava dividido entre uma alta de 0,75 e 1%, então a decisão foi mais pesada, foi mais dura. E o comunicado também.
Foi uma decisão unânime, e é importante frisar algumas mudanças importantes em relação aos últimos comunicados. Eles comentam aqui que a inflação projetada aqui para o horizonte relevante, que é o segundo trimestre de 2026, situa-se em 4%, então houve uma subida forte aí dessas expectativas.
Comunicado deixa bem claro aqui que a dinâmica inflacionária está mais adversa. E esse cenário atual é marcado por uma desancoragem adicional das expectativas de inflação, então veio com um tom mais pesado aqui.
Diferente das últimas reuniões, eles já deixaram aqui um forward guidance, já deram uma sinalização de que os próximos dois movimentos devem ser de 1% também, o que é bem hawkish.
Em relação a expectativa de mercado para amanhã, como a política monetária vai precisar ancorar essas expectativas que o fiscal está sendo bem ruim, bem frouxo, então vai ter que ter essa política monetária mais pesada, então eu acho que o mercado vai receber de forma positiva.
Mesmo que juros elevados sejam ruins para a bolsa, comunicado vai passar um recado importante de que o Banco Central vai buscar convergir a inflação para o centro da meta, então acho que o mercado vai ver isso com bons olhos.
Então a tendência é que a bolsa abra o dia de forma positiva, pode ser que o dólar recue um pouco mais, hoje o dólar caiu um pouco. Então penso que o mercado, apesar de ser uma decisão dura, hawkish, vai ver isso com bons olhos.
Comunicado me surpreendeu positivamente. Precisava ser duro e realmente foi.
Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais
Na minha visão, o tom do comunicado do Comitê veio mais Hawkish que o esperado, com o objetivo de ancorar as expectativas de inflação que saíram dos trilhos nos últimos meses, e que só deve ficar dentro do esperado no médio prazo.
Com esse alinhamento de expectativas mais longo, além de outros fatores, o Copom preferiu dar um “choque” de alta de juros, para evitar que esse cenário tenha que se perpetuar por mais tempo lá na frente.
Destaque para a mesma justificativa de reuniões anteriores de que o cenário continua desafiador, em especial pelo receio com a inflação e desaceleração da economia dos EUA, em especial com a entrada do presidente Trump em 2025.
A inflação local acima da meta, e o movimento dos demais bancos centrais pelo mundo em manter um cenário de juros altos para controle da inflação, obrigou o Copom a elevar a taxa Selic em 1%.
Nas próximas reuniões com o Gabriel Galípolo na presidência do BC, acredito que devemos continuar tendo um Copom vigilante, e com menor apetite a alta de juros, se a inflação assim permitir.
Penso que há uma grande interrogação se Galípolo vai manter o pulso firme assim como Campos Neto, mas a história recente da década passada, e do pós-pandemia mostra que a inflação é o inimigo global do século até aqui, e que se não for combatida com o remédio amargo da alta de juros, haverá nos próximos anos mais renda circulando, porém com menos poder de compra, o famoso “ganha mais não leva”, o qual terá um impacto grande sobre a classe baixa e a classe média no geral.
A Bolsa amanhã deve abrir em baixa, por conta da pressão dos juros locais, assim como os juros futuros precificando um cenário de mais altas. Acredito que o real deve se valorizar perante o dólar pela atração de fluxo com juros mais altos, que remunera melhor o capital estrangeiro.
SHZ AGÊNCIA
Adriane Schultz