À medida que a Coreia do Norte emerge lentamente de cinco anos de isolamento autoimposto da pandemia, um novo e brilhante bairro de arranha-céus na capital Pyongyang está tomando o centro das atenções.
Fotos do empreendimento de 10 mil apartamentos, divulgadas pela agência de notícias estatal KCNA depois que o líder do país Kim Jong Un inspecionou o local no sábado (15), mostram arranha-céus residenciais se espalhando por uma ampla avenida no novo distrito, Hwasong.
O projeto faz parte de uma grande iniciativa de construção na capital e em grande parte da nação autoritária e isolada internacionalmente, com o objetivo de melhorar os padrões de vida.
As casas fazem parte de um ambicioso plano de cinco anos, anunciado em 2021, para construir 50 mil apartamentos adicionais em Pyongyang, onde a qualidade de vida dos moradores é consideravelmente maior do que em outras partes do país empobrecido.
Mas, apesar das imagens brilhantes do novo horizonte de Pyongyang, viver em arranha-céus na Coreia do Norte não é necessariamente um símbolo de luxo.
Quedas de energia frequentes significam que os elevadores em prédios residenciais muitas vezes não funcionam, dificultando a vida diária daqueles que vivem em andares superiores. Como resultado, os moradores mais jovens geralmente são designados para apartamentos mais altos, enquanto os moradores mais velhos são transferidos para andares mais baixos para minimizar o esforço físico de subir escadas, como testemunhado pela CNN durante várias visitas ao país.
A escassez de moradias continua sendo um desafio significativo para a Coreia do Norte, que também está lutando contra uma economia vacilante, preços crescentes de commodities e insegurança alimentar contínua. Um estudo de 2021 feito por pesquisadores do Instituto de Engenharia Civil e Tecnologia de Construção da Coreia do Sul sugeriu que o país só tem casas suficientes para acomodar 70% a 80% de suas famílias. Fora da capital, muitas casas estão dilapidadas e não têm acesso consistente a eletricidade, água limpa e serviços de esgoto.
O novo bairro apresenta inúmeras torres altas – duas das quais são conectadas por uma passarela elevada – bem como “instalações educacionais, comerciais e de serviços”, de acordo com a mídia estatal. A KCNA afirmou que Kim Jong Un estava intimamente envolvido no projeto e “liderou energicamente o trabalho de elaboração do plano de construção”.
A visita de Kim ao local ocorre antes da cerimônia oficial de abertura em 15 de abril, um dos feriados públicos mais importantes do país, celebrando o aniversário de seu avô, o falecido fundador da Coreia do Norte, Kim Il Sung.
A inauguração completará a terceira fase da construção em Hwasong, uma área descrita pela mídia estatal como um “bairro urbano bonito e moderno” que significa “uma nova era de prosperidade” para Pyongyang.
Pyongyang está praticamente fechada para visitantes desde que a Coreia do Norte fechou suas fronteiras em resposta à pandemia de Covid-19 há mais de cinco anos. Um pequeno número de turistas russos visitou a cidade em 2024, embora a capital estivesse fora dos limites para o grupo de turistas internacionais que entrou no país no mês passado antes que as viagens fossem novamente suspensas. O último grupo só foi autorizado a visitar Rason, uma zona econômica especial perto da fronteira do país com a China e a Rússia.
Hwasong é o mais recente de uma série de desenvolvimentos urbanos recentes em Pyongyang, que é conhecida por sua arquitetura em tons pastéis de estilo soviético. Outros grandes projetos residenciais foram construídos ao redor da Mirae Scientists Street e da Songhwa Street, onde o segundo edifício mais alto do país – a Songhwa Street Main Tower – foi concluído em 2022.
A Coreia do Norte também está expandindo a habitação para além de Pyongyang, construindo milhares de casas em cidades de mineração e áreas rurais. Embora esses projetos visem modernizar o país, eles dependem de soldados e trabalhadores civis trabalhando em condições difíceis com pouca remuneração.
A habitação é atribuída pelo governo, priorizando aqueles que são considerados mais leais à família governante Kim e pessoas que trabalham em setores considerados mais valiosos para a nação, como cientistas e engenheiros.
A mídia estatal já se gabou do ritmo da construção na capital, apelidando-a de “Velocidade de Pyongyang”. As autoridades afirmam ter concluído a estrutura de um arranha-céu de 70 andares na Ryomyong New Town da capital em apenas 74 dias.
Mas especialistas expressaram preocupações sobre a qualidade dos materiais de construção e mão de obra nos projetos de construção do país – especialmente depois que um prédio de apartamentos em Pyongyang, que pode ter abrigado dezenas de famílias, desabou em 2014. A mídia estatal atribuiu o desastre, para o qual nenhuma contagem oficial de mortes foi divulgada, à “construção desleixada” e à “supervisão irresponsável de autoridades”.
O exército da Coreia do Norte, que desempenha um papel central nos projetos de construção do país, provavelmente foi fundamental na conclusão do novo distrito, assim como em empreendimentos anteriores de grande escala. Há mais de 1 milhão de militares na ativa e o recrutamento é obrigatório. A maioria dos homens é obrigada a servir por pelo menos dez anos, a partir dos 17 anos, geralmente sem nenhum contato com suas famílias. Mesmo depois de servir, eles continuam fazendo parte de uma força paramilitar civil, que chega a milhões.
Kim sinalizou recentemente que os planos de construção de seu governo agora vão além das metas de cinco anos anunciadas em 2021. No mês passado, ele disse que os bairros “degradados e antigos” da capital também serão reconstruídos em um futuro próximo.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br