O Cine Teatro Carlos Gomes, em Santo André, no ABC Paulista, exibe neste sábado (12), às 19h, o documentário Punks do ABC. A pré-estreia tem entrada gratuita. Com uma hora e meia de duração, o filme traz histórias pouco conhecidas do movimento punk e da cena underground do subúrbio operário do ABC, além de um arquivo histórico inédito, com cartazes, fanzines, fotos, fitas cassete e gravações em videotape.
A obra revisita os últimos 150 anos da história política e social do ABC Paulista, com a chegada dos imigrantes anarquistas espanhóis, portugueses, italianos e alemães à região no final do século 19, o surgimento dos primeiros sindicatos e o assassinato de Constantino Castellani, considerado o primeiro punk do ABC.
Segundo o diretor, pesquisador, jornalista e escritor Jairo Costa, o longa também aborda a resistência à ditadura militar, o surgimento do movimento punk em 1977, passando pelas grandes greves metalúrgicas de 1979 e 1980. Com produção de Izabel Bueno, da Estranhos Atratores Filmes, o documentário mostra ainda os conflitos entre punks do ABC e punks paulistanos na década de 1980, o enfrentamento aos grupos neonazistas na região, a realização da Ópera Punk em 1998, as jornadas de junho de 2013 até os dias atuais.
O filme, financiado com recursos da Lei Paulo Gustavo, é todo em preto e branco e reúne imagens que Jairo começou a captar entre 1998 e 2000, com uma câmera VHS, quando tinha 20 e poucos anos e fazia parte do movimento punk da região.
“Gravei bastante show, pessoal na rua se encontrando, passeios de trem, situações de confronto entre gangues. Isso ficou guardado e, no período da pandemia, recuperei as fitas. Quando a pandemia deu uma pausa, em 2021, 2022 comecei as entrevistas e cheguei a 47 pessoas”, contou.
Entre os entrevistados para o documentário, que Jairo classifica de antifascista, estão dezenas de punks, desde os pioneiros, como o Barata, da banda DZK; o Mao, dos Garotos Podres; Buba e Marcelo Magrão, da Corte Marcial; até as bandas contemporâneas, como Sentimento Carpete e Krias de Kafka, além de jovens da nova geração punk da região, que estão na faixa dos 20 anos de idade.
“Eu costumo dizer que esse filme é o puro suco do ABC. É muita coisa identificada com ABC, com sindicato, com greve, ligada ao movimento social, manifestações políticas, antifascistas, antirracistas. A gente procurou fazer uma edição que demonstre a postura dos punks, que são, na sua maioria, anarquistas e lutam contra os fascistas aqui na região há muito tempo.”
Segundo Jairo, são essas características que diferenciam os punks do ABC dos de outros pontos do país, onde a ideia era a de formar bandas, por exemplo. No ABC, o objetivo era primordialmente o engajamento político e o enfrentamento às coisas que consideravam erradas na sociedade.
“O punk defende a liberdade de expressão, a autogestão e é contra todo tipo de opressão, discriminação. E busca combater as desigualdades sociais que existem. O punk sempre foi um movimento avançado. Nos anos 80, já falava de veganismo, de ecologia, já lutava contra a ditadura militar, o fascismo. E um dos objetivos é chocar, com o visual. As mídias deturparam a visão para rotular o movimento como algo muito nocivo para a sociedade, mas é muito pelo contrário”, afirmoou.
Jairo lembrou ainda do enfrentamento entre os punks e os carecas do ABC, grupos nacionalistas, ligados a movimentos de extrema direita, também surgidos no fim dos anos 80 na região. Além dos carecas, o documentário cita os white powers, grupos que defendem a supremacia branca. “Os punks sempre combateram as ações deles no ABC. O doc mostra isso e como os punks sempre se manifestaram contra esse tipo de ideologia.”
Segundo Jairo, o documentário vem preencher uma lacuna existente na história do movimento, já que há inúmeras obras sobre o punk no país, mas não havia nada retratando o ABC. “Não havia nenhum produto audiovisual que mostrasse nossa visão daqui. O documentário tem essa missão de mostrar o que foi o punk no passado, o que ele é no presente, as novas gerações, e apontar o que pode ser o punk no futuro”.
Por enquanto, não há salas definidas para a exibição do filme para o grande público, mas Jairo disse que isso está sendo negociado com os cinemas do ABC. O Cine Teatro Carlos Gomes, fica na Rua Senador Fláquer, 110, no centro de Santo André.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br