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“Ela nem é tão preta assim“: por que frase de Odete Roitman é racista?

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Odete Roitman, personagem vivida por Debora Bloch, fez uma declaração racista no capítulo desta segunda-feira (19) de “Vale Tudo”, que levantou uma discussão importante acerca do colorismo. O termo refere-se a uma estrutura hierárquica que impõe a superioridade branca enquanto ideal de poder: quanto mais próximo do ideal de brancura o sujeito está, melhor será sua condição socioeconômica.

A frase “ela nem é tão preta assim” foi dita em uma conversa com Celina (Malu Galli), na qual a vilã justifica que é melhor que o filho Afonso (Humberto Carrão) se envolva com Maria de Fátima (Bella Campos) do que com Solange (Alice Wegmann), que é branca, mas não corresponde às condições dela para se casar com o filho.

As palavras de Odete repercutiram muito em diversas redes que criticaram o racismo implícito na afirmação da vilã da novela de Manuela Dias. A pesquisadora Morena Mariah explica que o colorismo cria uma estratificação entre pessoas negras, que as diferencia e tem como objetivo reforçar essa lógica de ordenamento racial, mantendo sujeitos de pele escura nas piores condições.

“O colorismo também oferece aos sujeitos de pele clara benefícios e recompensas por se aproximarem do ideal racial de brancura. É preciso frisar que esse é um fenômeno derivado de uma estrutura maior e mais poderosa: o racismo. É, sem dúvidas, um conceito importante para entendermos como o racismo opera nas dinâmicas entre pessoas negras e na relação destas com a branquitude”, detalha.

Ela também diz que a frase dita por Odete Roitman torna a pessoa negra como um defeito e reforça a ideia de que ser menos negro é algo positivo. Morena ainda destaca que a branquitude, enquanto categoria racial de análise, enquadra o mundo a partir de suas próprias noções do que é ou não adequado.

“A ideia de que tudo que se afasta (e quanto mais afastado) da negritude, melhor, é uma ideia que flerta diretamente com ideias supremacistas, eugenistas de superioridade branca. Logo, se uma pessoa é negra e tem pele clara, ela possui ‘uma vantagem’ de poder construir uma aparência que se afaste da sua negritude. No entanto, essa suposta vantagem, além de não ser real na vida prática, se revela um grande sacrifício da própria identidade.”

Negra de pele clara

A chef e escritora Bela Gil tinha dúvidas desde a infância sobre sua própria identidade e não sabia se reconhecer como uma pessoa negra ou branca. Filha de Gilberto Gil, ela não conseguia se ver como uma mulher negra porque em vários lugares a viam como branca.

Outras artistas famosas como Vanessa da Mata e Camila Pitanga também são chamadas de “morena clara” ou mesmo de brancas justamente por terem cores de pele menos retintas do que outras mulheres negras, como Taís Araújo ou Clara Moneke. A pesquisadora reforça que pretas são as pessoas de cor de pele retinta e que este termo é usado de forma coloquial como forma de simplificar.

“Mas para fins estatísticos e de heteroidentificação, mulheres como as citadas, são negras, de pele parda. Para além disso, existe neste momento no Brasil um debate sendo ressuscitado sobre a mestiçagem. É importante dizer que os movimentos negros no nosso país tomaram a decisão estratégica e política, de reconhecer pretos e pardos como o grupo racial negro a partir de análise socioeconômicos, educacionais, de acesso à saúde e por aí vai”, detalha.

Ela ainda ressalta que a junção de pretos e pardos como uma população negra não se dá para apagar as diferenças existentes nas experiências raciais de cada grupo em cada contexto social.

“Vale frisar que raça é uma categoria social, jamais biológica. E que as vivências das pessoas diferem a depender do território, da cultura e subjetividade de cada um. Mulheres pretas e pardas têm experiências distintas em suas vivências particulares, mas para fins de políticas públicas, em relação ao acesso aos direitos, nossa realidade segue sendo radicalmente diferente das mulheres brancas e de outras pertenças étnico-raciais.”

Por fim, Morena acredita que uma discussão como essa exposta em uma novela das 9 traz um alcance que livros e discussões acadêmicas não possuem. A pesquisadora adverte que é muito importante que este debate seja pautado com muito cuidado e responsabilidade para entender as repercussões políticas de determinados discursos na realidade do país.

“O racismo é vivido pela população negra diariamente no Brasil há 300 anos. Logo, quanto mais pautarmos este assunto nas narrativas, melhor a compreensão da população sobre suas origens e sua identidade. É muito positivo e relevante que as novelas se comprometam com discussões tão necessárias”, pontua.

“Vale Tudo”: saiba quais serão as alterações na nova versão da novela

Fonte: www.cnnbrasil.com.br

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