A vida de Suzy Hopkins de repente virou de cabeça para baixo. Após 30 anos de casamento, seu marido a deixou inesperadamente para reatar com uma antiga namorada, que por coincidência era conselheira matrimonial. Hopkins enfrentou uma montanha-russa de emoções — descrença, tristeza, raiva e confusão.
Na época da partida do marido, Hopkins estava se preparando para lançar seu primeiro livro, “What To Do When I”m Gone: A Mother’s Wisdom to Her Daughter” [“O que fazer quando eu for embora: a sabedoria de uma mãe para sua filha”, em tradução livre], uma colaboração de 2018 com sua filha, Hallie Bateman, ilustradora e também escritora cujo trabalho foi apresentado no The New Yorker e The New York Times.
As duas decidiram transformar o que foi uma separação devastadora para Hopkins em uma nova novela gráfica, “What to Do When You Get Dumped: A Guide to Unbreaking Your Heart” [“O que fazer quando você leva um fora: um guia para curar seu coração partido”, em tradução livre]. A obra oferece um olhar íntimo sobre as complexas emoções de perder alguém que já teve um papel fundamental em sua vida.
Através de uma contagem regressiva cronológica durante o tempo que Hopkins levou para se recuperar, a dupla criou um guia sincero que combina conselhos práticos com humor, ajudando aqueles em jornada de cura a reconhecer que são dignos de amor.
Hopkins e Bateman conversaram com a CNN sobre sua experiência trabalhando juntas como mãe e filha e o que esperam que as pessoas possam extrair da jornada de Hopkins.
CNN: O que te inspirou a compartilhar seu término e sua tristeza para um público maior?
Suzy Hopkins: Em 2018, Hallie e eu estávamos nos preparando para promover nosso primeiro livro juntas. Meu marido partiu cerca de três meses antes, e eu estava em um terrível estado de choque quando pensei comigo mesma: “Meu Deus, eu deveria estar escrevendo um livro sobre o que fazer quando você é abandonada”.
Algum tempo se passou, e Hallie me deu de presente uma leitura de tarô. A cartomante descreveu o livro que eu imaginava quase que exatamente. Comecei a entrevistar estranhos sobre o que aprenderam ao passar por um término, e me impressionou que as pessoas realmente entendiam o que eu estava passando e muitas outras devem estar experimentando a mesma coisa. Comecei a escrever como um exercício para superar o luto. Depois que comecei a escrever, os sentimentos doíam muito, mas acabou sendo um caminho através disso.
CNN: Foi desafiador ser vulnerável sobre a humilhação, depressão e ressentimento que você experimentou depois que seu marido partiu?
Hopkins: Foi muito difícil e doloroso. Sou jornalista, repórter e editora há toda a vida, mas minha grande esperança é que isso (o livro) seja útil para alguém. Houve muitas lágrimas ao longo do caminho porque processar e colocar minha experiência por escrito — mesmo usando humor — é doloroso.
Considerei se queria me deter na separação e o que seria necessário para conseguir escrever o livro. Então Hallie introduziu a ideia de usar ilustrações, e começamos a desenvolver a ideia e refiná-la.
Hallie Bateman: Foi uma experiência realmente emocional para nós duas. Meu pai é a pessoa que deixou minha mãe, o que me colocou em uma posição estranha. Mas, ao mesmo tempo, pareceu natural trabalhar neste projeto com minha mãe.
CNN: As pessoas podem entender os sentimentos do luto do relacionamento, mesmo que não estejam passando por uma separação atualmente?
Bateman: Falamos sobre o luto de perder alguém (que morre), e é compreensível por que uma pessoa fica tão devastada. Não há tanto reconhecimento da validade e seriedade do luto pela perda de um relacionamento. Para mim, este livro é sobre legitimar esses sentimentos de luto, seja você filho de pais separados ou próximo de alguém que está experimentando a perda. Eu também já fiquei com o coração partido por anos. Estou nos meus 30 anos agora e felizmente casada, mas a dor de relacionamentos passados nunca vai embora completamente. Para qualquer pessoa que já teve o coração partido, há um valor real em explorar como é o luto.
Hopkins: Muitas pessoas que entrevistei para o livro também passaram por términos realmente significativos e acreditam que não deveriam mais estar tristes. Há muita pressão para superar uma separação ou encontrar alguém novo para ajudar você a superar esses sentimentos. As pessoas tendem a suprimir suas emoções, o que não é produtivo. Quando meu marido partiu, procurei terapia e sabia que não ficaria bem. Muitas pessoas estão em situações semelhantes e têm décadas de luto não processado.
CNN: Qual é um equívoco comum sobre passar por um término de relacionamento?
As pessoas subestimam o luto que acompanha uma separação e quanto tempo pode levar para aceitá-lo. Quando me divorciei, finalmente entendi toda a dor que meus amigos passaram, e percebi que tinha sido uma má amiga porque pensava que muitos casamentos simplesmente se desfaziam. Não dei às pessoas que estavam lidando com um coração partido o mesmo respeito que daria agora.
Estou na idade em que alguns maridos das minhas amigas estão morrendo. Não é a mesma coisa, mas existem alguns paralelos de luto sobre perder alguém. É importante ser paciente com essas pessoas, especialmente se você não consegue se relacionar diretamente com elas.
CNN: O que você espera que seu público tire da sua experiência?
Hopkins: Espero que este livro traga alguma alegria. Eu tinha 58 anos quando meu marido partiu, e agora tenho 65. Meu mundo inteiro era essa única pessoa, e nunca me senti tão sozinha quanto quando meu mundo desapareceu. Pode ser difícil encontrar pessoas que tolerem ouvir você lamentar a perda do seu relacionamento. As pessoas se cansam disso.
Acho que sentar em um quarto escuro com um livro que não te julga ajudará as pessoas a se sentirem menos sozinhas. Eu só queria um mapa que pudesse me ajudar a sair do luto profundo em que me encontrava, e ajudar alguém com isso seria minha maior recompensa.
Bateman: Penso na dedicatória do livro que minha mãe escreveu, que diz: “Se você precisa de um fio de esperança para consertar um coração despedaçado, este livro é para você.” Espero que os leitores saiam com esperança e se sintam encorajados a seguir em frente. O livro é sobre luto, mas nos esforçamos para trazer muito humor. Você precisa encontrar maneiras de rir e trazer calor para algo tão difícil de processar. Amo a mudança lúdica de perspectiva que pode trazer alívio para alguém com o coração partido.
CNN: Que lições você aprendeu escrevendo este livro?
Hopkins: No meu casamento, eu me sentia parte de uma entidade de duas pessoas. Quando meu marido se foi, de repente me senti como se fosse apenas metade de mim mesma. O que aprendi ao longo do caminho é que esta vida é minha para moldar e que pode ser difícil quando você esteve em uma parceria. Cabe a você encontrar seu caminho. Fiz exatamente o que disse no livro. Andei em círculos por alguns anos. Você precisa se dar muita compaixão, tempo e graça para chegar ao ponto em que é capaz de fazer isso.
Bateman: Quando seu mundo implode e você tem que juntar os pedaços, você não desejaria esse tipo de dor para ninguém. Mas a lição que tirei deste livro é que somos muito mais fortes do que imaginamos, e tem sido transformador para mim ter esse fio de esperança na jornada da minha mãe após o divórcio. Ver minha mãe transformar seu luto em algo tão engraçado, lindo e pessoal é inspirador. Acho que nossa mensagem é que algo bonito pode nascer de uma dor incrível. Realmente, acredito que pode ajudar as pessoas a consertarem alguns corações.
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Fonte: www.cnnbrasil.com.br