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O pragmatismo necessário, por Mário Teruya

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Deng Xiaoping, líder da China pós-Mao, traduziu suas medidas revisionistas por meio da famosa assertiva: “não importa a cor do gato, importa que cace ratos”. Desde sua chegada ao poder, na segunda metade dos anos 1970, o outrora perseguido Deng iniciou um processo de abertura da economia chinesa que impulsionou de forma impressionante o desenvolvimento do país. Hoje, a China disputa a hegemonia no mundo e caminha para se tornar em breve a maior economia do planeta. Pode-se dizer que o projeto econômico de Deng, com suas polêmicas, foi um sucesso. E seus sucessores seguiram seu estilo pragmático.

Para o mago liberal do chamado “milagre brasileiro” (1967 a 1973), então Ministro Delfim Neto, Lula com seu pragmatismo a la Deng salvou o capitalismo tupiniquim. Isso soa como provocação para setores da “esquerda radical”. Alguns destes esquerdistas maniqueístas consideram Lula o líder ideal para a burguesia brasileira. Em seus dois primeiros mandatos, Lula sofreu as mais duras críticas não dos neoliberais, mas destes setores situados à “esquerda” do espectro ideológico dominante e que orbitam em torno do genial condottiere. As críticas mais agudas destacam o fato de que Lula não promoveu transformações estruturais, pelo contrário, fortaleceu a lógica capitalista por meio de incentivos a setores como o agronegócio e o  capital financeiro. De qualquer modo, Lula foi exitoso nos dois mandatos. Saiu do governo com quase 90% de aprovação.

Lula iniciou seu terceiro mandato com um discurso mais à esquerda. Isso se refletiu na composição dos ministérios, contemplado com grande participação do PT e dos aliados do campo progressista. Porém, Lula tem que governar com um Congresso extremamente fisiológico e conservador. E o presidente da Câmara atua quase que como um primeiro ministro. Este cenário complexo praticamente obriga Lula a fazer acenos para o mercado. A proposta do arcabouço fiscal, muito criticado por aliados à esquerda, é um exemplo de como Lula trabalha de forma pragmática para viabilizar o governo de frente ampla. Haddad, seu principal ministro, tem agido com habilidade o modo lulista de governar, como bem demonstrou no encaminhamento do arcabouço. No campo econômico, portanto, Delfim tem razão ao dizer que Lula lembra o líder que conduziu a China ao socialismo de mercado.

 Por outro lado, no território da política e da cultura, Lula é um democrata convicto e atua com a flexibilidade de quem passou pelas agruras da fome. Tem o lugar de fala de um sobrevivente das contradições de capitalismo tardio e dependente. Por isso, sabe que para governar e viabilizar seus projetos precisa dos votos do eleitorado conservador. E para sensibilizar o conservadorismo da periferia contaminada pela narrativa da extrema-direita precisa ter a habilidade de dialogar de modo a fazer povo entender seu mote preferido – colocar o pobre no orçamento e o rico no IR. Mas nestes tempos de fake news e pós-verdade, não basta o discurso econômico. Lula sabe que apenas a base ligada aos movimentos sociais e as causas identitárias não são suficientes para atrair os pobres inocentes úteis que ajudaram a pavimentar o bolsonarismo tosco. Os recentes votos conservadores de Zanin parecem sinalizar para esta estratégia.

O cenário trágico herdado do desgoverno fascista e a ascensão de grupos de extrema-direita fazem parte da realidade atual. E só com o pragmatismo de quem conhece a realpolik o Brasil vai superar essa fase obscura de sua história. O crescimento da economia e a redução do desemprego são sinais de que Lula mais uma vez está no caminho certo.

As resoluções do Diretório Nacional do PT com destaque para o apoio à reeleição de Lula e o fortalecimento da frente ampla nas eleições municipais mostram que o partido também compreendeu a necessidade de estabelecer laços com setores democratas, para além da esquerda e do centro. A consolidação da democracia requer diálogo permanente não apenas com os “iguais” mas sobretudo com os diferentes.

Mário Teruya

– Professor de geografia

– Membro do Partido dos Trabalhadores

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