O Paraguai convocou o embaixador paraguaio no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, para consultas e pediu para o embaixador brasileiro em Assunção, José Antônio Marcondes, dar explicações após suposta ação hacker do governo brasileiro.
A chancelaria paraguaia também anunciou a suspensão de todas as negociações do novo Anexo C do Tratado de Itaipu Binacional até que o Brasil faça esclarecimentos sobre a suposta ação.
“Esta é uma violação do direito internacional, a intromissão nos assuntos internos por parte de um país no outro”, disse o chanceler Rubén Ramírez Lezcano ao anunciar as medidas.
Segundo o governo paraguaio, o ministério da Tecnologia da Informação e Comunicação do país está investigando a suposta invasão ao sistema paraguaio entre 2022 até março de 2023, datas sinalizadas no comunicado como o período em que a operação teria ocorrido sob autorização do governo de Jair Bolsonaro.
“O que ocorreu nestes nove meses em que fomos alvo dessas ações de inteligência? Vazaram dados de e-mails através de intervenções de inteligência? Mexeram nos telefones de ministros e conselheiros daquela época? Houve ações de seguir altos funcionários do governo do Paraguai? Não sabemos. Mas está claro através do comunicado do governo do Brasil que houve uma ordem a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de realizar essas medidas de inteligência durante esses 9 meses”, disse o ministro da Tecnologia da Informação e Comunicação, Gustavo Villate.
“Então o que o governo do Paraguai está fazendo é pedir explicações ao governo do Brasil. Da mesma forma, se suspende de forma indefinida qualquer negociação do Anexo C porque temos que restituir o que é fundamental para a relação, que é a confiança. Somos sócios da maior hidrelétrica do mundo […] e estamos diante de um fato histórico que vai definir em grande parte do futuro de nossa nação, a negociação do Anexo C, que tem que estar revestida de confiança”, completou.
Na segunda-feira (31), o Ministério das Relações Exteriores negou que a atual gestão federal, chefiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tenha feito uma ação hacker contra o governo do Paraguai, para obter dados relacionados à negociação bilateral da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
A manifestação do governo brasileiro ocorreu após reportagem do portal UOL noticiar que uma operação voltada à invasão de computadores do Paraguai foi criada ainda no final do governo de Jair Bolsonaro (PL), mas teve continuidade na gestão petista, com atuação do atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa.
A CNN apurou que o caso é investigado pela Polícia Federal (PF) no âmbito do inquérito da “Abin paralela”, onde depoimentos de servidores da agência destacam uma ação hacker contra o Paraguai.
Um servidor do órgão de inteligência brasileiro comunicou esse uso em depoimento à PF em novembro do ano passado. A PF recebeu o mesmo relato de outro servidor da agência e investiga se a atual cúpula deu aval para a ação.
Segundo os depoentes, foi usado o programa Cobalt Strike para invasão de dispositivos de informática contra o governo do Paraguai.
A ferramenta serve para intrusão em computadores e teria sido usada para obter dados relacionados à negociação bilateral da Usina Hidrelétrica de Itaipu, com valores negociados da venda de energia produzida pela binacional.
Segundo os servidores, os ataques não partiram do Brasil. A ação foi feita a partir do Chile e Panamá, após a instalação de usuários virtuais nessas localidades.
Um integrante da cúpula da PF disse à CNN que é preciso saber se o atual diretor da Abin tinha conhecimento e consentiu com a ação.
A agência ainda não se pronunciou sobre o caso.
A Usina Hidrelétrica de Itaipu fica localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai, simbolizando a cooperação entre os dois países.
Em 1973, os dois assinaram o “Tratado de Itaipu”, que estabeleceu as regras para a construção da Usina. Dentre elas, estava a determinação de que Brasil e Paraguai deveriam receber de forma igualitária a energia gerada.
Mais de cinquenta anos depois, em fevereiro deste ano, os dois países concordaram que será firmado, até maio, um novo Anexo C do tratado, que diz respeito às condições financeiras de comercialização de energia hidrelétrica, ou seja, as tarifas pagas.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br