Pessoas que possuem níveis mais altos de espermatozoides fortes e ágeis podem viver quase três anos a mais do que aquelas com baixa qualidade espermática, segundo uma nova pesquisa publicada na terça-feira (4) na revista Human Reproduction. O estudo em grande escala acompanhou mais de 78.000 homens ao longo de 50 anos.
A capacidade dos espermatozoides de nadar corretamente pelo trato reprodutivo feminino para alcançar e fertilizar um óvulo é chamada de motilidade.
“Em termos absolutos, homens com uma contagem total de espermatozoides móveis superior a 120 milhões (por mililitro de sêmen) viveram 2,7 anos a mais do que homens com uma contagem total móvel entre 0 e 5 milhões”, disse a autora principal do estudo, Lærke Priskorn, pesquisadora e doutoranda no Hospital Universitário de Copenhague — Rigshospitalet, na Dinamarca, em um comunicado.
Para traduzir isso em idades, um homem com motilidade espermática extremamente baixa poderia viver até 77,6 anos, enquanto um homem com motilidade extremamente alta poderia viver até 80,3 anos, de acordo com o estudo.
“O fato de haver uma associação entre a qualidade do sêmen e a longevidade é uma descoberta importante”, disse o Dr. Michael Eisenberg, professor de urologia e diretor de medicina reprodutiva masculina e cirurgia na Escola de Medicina da Universidade de Stanford. Ele não esteve envolvido na nova pesquisa.
“Já houve estudos anteriores que sugerem essa ligação entre saúde reprodutiva e saúde geral”, disse Eisenberg em um e-mail.
A contagem de espermatozoides pode ser um “canário na mina”?
No novo relatório, os pesquisadores compararam a qualidade de amostras de sêmen coletadas entre 1965 e 2015 de homens que passaram por testes de infertilidade em Copenhague. A qualidade do sêmen desses homens foi então comparada com registros médicos nacionais coletados pelo serviço de saúde dinamarquês.
“Quanto menor a qualidade do sêmen, menor a expectativa de vida”, disse Priskorn. “Essa associação não foi explicada por nenhuma doença nos dez anos anteriores à avaliação da qualidade do sêmen nem pelo nível educacional dos homens.”
As contagens de motilidade geralmente são expressas em porcentagem, e não em números absolutos. A Organização Mundial da Saúde considera o sêmen de um homem normal se cerca de 42% dos espermatozoides em cada amostra de ejaculação forem capazes de nadar até seu destino.
No entanto, uma contagem de motilidade inferior a 5 milhões por mililitro de sêmen está associada a um caso grave de oligospermia, ou baixa contagem de espermatozoides, o que frequentemente leva à infertilidade masculina, segundo o estudo.
Uma motilidade espermática de cerca de 125 milhões por mililitro de sêmen é considerada normal para um homem fértil, segundo Eisenberg. No entanto, isso não garante fertilidade masculina, afirmam os especialistas.
Se não for pela fertilidade, por que testar o sêmen seria benéfico? Porque também pode ser um marcador de problemas de saúde masculina em idades mais jovens, disse John Aitken, professor emérito da Escola de Ciências Ambientais e da Vida da Universidade de Newcastle, na Austrália, que não participou do estudo.
“Nos homens, parece ser o perfil do sêmen que fornece as informações mais significativas sobre sua saúde e bem-estar futuros”, escreveu Aitken em um editorial publicado junto ao estudo.
“Se os espermatozoides realmente forem os ‘canários na mina de carvão’ da saúde masculina, a pergunta óbvia a se fazer é: por quê?” questionou Aitken. “Que fatores poderiam ligar a expectativa de vida dos homens à qualidade do seu sêmen na juventude?”
Estresse oxidativo é uma possibilidade
Segundo Aitken, uma explicação para essa associação pode ser o estresse oxidativo, causado quando os radicais livres estão descontrolados. Os radicais livres são moléculas instáveis que podem danificar o DNA e a função celular, levando à morte celular em todo o corpo, incluindo os testículos e os espermatozoides.
“Qualquer fator (genético, imunológico, metabólico, ambiental ou relacionado ao estilo de vida) que aumente os níveis gerais de estresse oxidativo pode, de maneira razoável, ser esperado para provocar mudanças no perfil do sêmen e, consequentemente, nos padrões de mortalidade”, sugeriu Aitken.
Fumar, consumir álcool em excesso, exposição ao sol, pesticidas, produtos químicos industriais e poluentes do ar são algumas das formas de ativação dos radicais livres, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer dos EUA.
O corpo, no entanto, possui mecanismos para se defender — com antioxidantes. Apelidados de “caçadores de radicais livres”, os antioxidantes podem prevenir e reparar danos causados por alguns tipos de radicais livres, dizem os especialistas.
Embora suplementos não tenham demonstrado eficácia contra os radicais livres, frutas, vegetais, nozes e grãos, ricos em vitaminas e minerais essenciais, são excelentes fontes de antioxidantes, segundo a Cleveland Clinic.
Frutas cítricas, pimentões vermelhos e verdes e brócolis são ricos em vitamina C, um antioxidante. Já nozes, sementes de girassol, espinafre e brócolis são boas fontes de vitamina E, outro antioxidante, segundo o site da clínica.
Salmão e atum contêm selênio, assim como arroz integral, ovos e pão integral. O betacaroteno, outro antioxidante, pode ser encontrado em cenouras, damascos, couve, mangas e batatas-doces.
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Fonte: www.cnnbrasil.com.br