Saiba por que o papa Francisco não será enterrado no Vaticano

O papa Francisco, que faleceu na segunda-feira (21) após a Páscoa, aos 88 anos, rompe com a tradição ao escolher seu local de sepultamento, optando por uma basílica iluminada no lugar das grutas do Vaticano.

Os pontífices são geralmente sepultados na Cidade do Vaticano, sob a Basílica de São Pedro. Mas Francisco será o primeiro papa em mais de um século a ser sepultado fora do Vaticano, pois solicitou um túmulo “simples” a alguns quilômetros de distância, na Basílica de Santa Maria Maior.

O funeral do papa acontecerá no sábado (26) na Praça São Pedro, antes de seu corpo ser levado para a basílica — do outro lado do Rio Tibre, no centro de Roma — para o sepultamento.

“O túmulo deve ser enterrado; simples, sem decoração especial e com a única inscrição: Franciscus”, pediu o pontífice em seu testamento, divulgado pelo Vaticano.

Ele também afirmou que os custos de seu sepultamento seriam cobertos “por uma quantia fornecida por um benfeitor”.

Embora o túmulo de Francisco seja humilde, a basílica acima dele brilha com a luz do sol e o ouro.

O teto é revestido de madeira dourada, e a luz entra pelas janelas altas, iluminando os mosaicos que revestem a região central.

Fiéis e visitantes têm se aglomerado no local, nos dias que se seguiram à morte do papa, interessados ​​em ver pessoalmente o lugar que ele amava.

Erguida no topo de uma das sete colinas sobre as quais a Roma Antiga foi construída, Santa Maria Maggiore é uma das quatro basílicas papais.

A torre do sino é a mais alta da capital italiana, com 75 metros de altura, e sua posição na colina a torna o ponto mais alto da cidade.

Reza a lenda que a Virgem Maria procurou o papa Libério e um aristocrata italiano pedindo que a igreja fosse construída em sua homenagem em um local que seria milagrosamente revelado.

O Monte Esquilino, em Roma, foi identificado como o local após a queda de neve em seu cume em agosto de 358, no auge do verão.

Atualmente, uma celebração que marca o “Milagre da Neve” acontece na basílica em 5 de agosto de cada ano.

O edifício, como se apresenta hoje, foi encomendada pelo papa Sisto III no ano de 431.

Os mosaicos datam dessa época, e o interior também ostenta colunas clássicas saqueadas de outras construções, embora esteja envolta em uma fachada neoclássica construída no século XVIII.

Visitas do papa

A igreja tem um significado especial para o papa Francisco, que costumava visitá-la nas manhãs de domingo para homenagear a Virgem Maria.

Ele tinha o hábito de ir até basílica antes e após viagens ao exterior, bem como após internações hospitalares, para rezar ao ícone mariano mais importante, a Salus Populi Romani, à qual confiava a proteção de suas viagens apostólicas, seguindo a tradição jesuíta.

Um lugar claramente próximo ao seu coração, foi onde o pontífice iniciou seu primeiro dia completo como líder da Igreja Católica em 2013.

Foi também o primeiro lugar que ele visitou após deixar o hospital no mês passado, oferecendo flores para serem colocadas diante do ícone da Virgem Maria antes de retornar à sua residência no Vaticano.

Francisco revelou seus planos de ser sepultado no local em dezembro de 2023, explicando que sentia uma “conexão muito forte” com a basílica.

“Quero ser sepultado em Santa Maria Maggiore”, declarou. “Porque é minha grande devoção.”

Um “local já está preparado” para o sepultamento, afirmou o papa em 2023, acrescentando que vinha trabalhando para agilizar os funerais papais.

“Nós os simplificamos bastante”, explicou o pontífice. “Vou estrear o novo ritual”, acrescentou, sorrindo, na ocasião.

Primeiro papa na Basílica em mais de 300 anos

Embora outros sete papas estejam sepultados em Santa Maria Maggiore, Francisco será o primeiro a não ser sepultado na Basílica de São Pedro desde Leão XIII, que morreu em 1903 e foi sepultado na Basílica de São João de Latrão.

O último papa a ser sepultado em Santa Maria Maggiore foi Clemente IX, em 1669.

Esta não é a única vez que o papa rompeu com a tradição: Francisco também se recusou a morar no Palácio Apostólico, a residência papal oficial, optando por morar em um pequeno apartamento na casa de hóspedes do Vaticano, Santa Marta.

Ao longo de sua vida, ele foi conhecido por evitar luxos.

Como cardeal em Buenos Aires, Argentina, ele era conhecido por usar o metrô em vez de usar um carro com motorista.

Mais tarde em sua carreira, ele viajaria para o trabalho no Vaticano em um modesto Ford Focus azul.

A basílica após a morte de Francisco

No dia seguinte à sua morte, a Basílica de Santa Maria Maggiore estava muito mais movimentada do que o normal, com centenas de enlutados, fiéis e outros visitantes.

A atmosfera era carregada de sentimento, mas não sombria, e a missa da tarde começou com um quinteto de metais e música animada de órgão.

“Foi uma experiência simplesmente extraordinária”, declarou Kerry Bruder, 71 anos, de Ontário, Canadá, após ver as enormes obras de arte e esculturas de mármore na igreja. “Você sabe que as pessoas vão lá há séculos… e isso te fez sentir pequeno, mas de um jeito bom.”

Victoria Ferreira, que viajou do Brasil a Roma para a Páscoa, contou que já havia visitado a basílica dias antes — mas que a sensação era diferente após a morte do pontífice, acrescentando que “foi muito emocionante”.

Ferreira, de 33 anos, relatou à CNN que, como católica, espera que o próximo papa conduza a Igreja pelo mesmo caminho que Francisco.

“Ele nos encheu de amor, de empatia, de esperança”, disse ela. “E acho que precisamos, mais do que nunca, ter isso em mente e em nossas ações — ser como ele.”

Papa Francisco escolhe Basílica de Santa Maria Maggiore para ser enterrado | CNN PRIME TIME