spot_img
spot_img

The Intercept Brasil: avançamos muito no caso Marielle

Mais notícias

Investigação da PF possibilitou acesso a novas informações que ajudam a esclarecer assassinatos.

Élcio de Queiroz, um dos réus do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, abriu o jogo com a Polícia Federal. Em delação premiada, falou sobre a relação com o atirador Ronnie Lessa, o percurso até o local e os dias posteriores à execução. Mas, pelo menos por enquanto, esclareceu só o pós-crime. Falta dizer qual era o objetivo do assassinato da vereadora e, principalmente, quem deu a ordem para atirar.

A aposta é nos outros trechos da delação, ainda não divulgados pelo Ministério da Justiça e pela Polícia Federal. Mas uma informação já vazou: Élcio acredita no envolvimento do bicheiro Bernardo Bello. Ele é um dos maiores contraventores do Rio de Janeiro, suspeito de ter aniquilado a família da mãe de seu filho para tomar para si o parte do império do jogo do bicho criado por Maninho, seu sogro.

É difícil juntar as peças para entender por qual razão Bello teria se metido no assassinato de Marielle. Até porque são muitas peças! O submundo do crime no Rio se conecta em todas as esferas: na política, na milícia, no jogo do bicho. Basta acompanhar uma ou mais investigações iniciadas ou retomadas depois do assassinato da vereadora: quase sempre surgem nomes de policiais, políticos, matadores e um ou outro bicheiro – os verdadeiros comandantes do Rio de Janeiro.

Com o caso Marielle não é diferente. Quanto mais os investigadores fuçam, mais chorume aparece. E dúvidas também. Por exemplo: teria alguém de dentro da Câmara dos Vereadores interessado em esconder os vestígios do crime ou dos mandantes?

Mostramos no Intercept que os registros de visitantes nos dias anteriores ao crime simplesmente desapareceram do sistema da Câmara dos Vereadores do Rio. Cristiano Girão, ex-vereador e miliciano denunciado pelo então deputado estadual Marcelo Freixo – com quem Marielle trabalhou por dez anos – na CPI das milícias, passou por lá uma semana antes do assassinato.

Noticiamos a visita no dia 15 de março daquele ano. E, para nossa surpresa, quando recebemos um material requisitado via Lei de Acesso à Informação com todos os registros de novembro de 2017 a março de 2018, não encontramos Cristiano Girão. Quem apagou a entrada do suspeito de ter mandado matar Marielle Franco? E por quê? Até hoje nem a polícia, nem a Câmara dos Vereadores nos deram essa resposta.

E se tiver algum político da Assembleia do Estado do Rio envolvido? Assim que entrou nas investigações, no início deste ano, a Polícia Federal solicitou imagens e registros dos presos da operação Lava Jato no Rio de Janeiro, em 2018. Entre eles, estavam três ex-deputados do antigo PMDB: Jorge Picciani (morto em 2021), Edson Albertassi e Paulo Melo – esses dois hoje no União Brasil.

Em comum, todos eles tiveram seus planos frustrados, ou atrapalhados, por Freixo. O ex-parlamentar do Psol colaborou com a Operação Cadeia Velha, que investigava indícios de corrupção, lavagem de dinheiro, e formação de quadrilha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Os três deputados passaram anos na cadeia por conta dos crimes cometidos.

Uma das linhas de investigação aponta a possibilidade de eles terem encomendado, por vingança, a morte de Marielle – que, em parceria com Freixo, teria prejudicado os planos corruptos de todos eles.

Outro antigo desafeto também frequenta, desde o início das investigações, a lista de suspeitos: o ex-deputado estadual Domingos Brazão. Assim como Girão, ele também foi mencionado na CPI das Milícias e, em 2014, Freixo tentou impedir sua nomeação do para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

Em trocas de mensagens dias antes no dia 11 de março de 2019, Jomar Bittencourt Junior, o Jomarzinho, acusado de vazar informações sobre a operação que culminou com as prisões de Queiroz e Lessa, se mostrou preocupado: “Pelo que me falaram vão até prender Brazão e Rivaldo Barbosa [delegado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio]”, escreveu Jomarzinho.

A preocupação se justifica, em partes, pela relação próxima de seu pai, ex-delegado da polícia federal, morto em 2021, com a família Brazão. Jomar Bittencourt, o pai, concorreu a deputado federal em 2018 para ajudar a eleger Chiquinho Brazão, irmão de Domingos, à Câmara Federal. “Não foi só agora nessa eleição, a família está ligada a ele há 20 anos”, me contou Vinicius Cordeiro, presidente do Avante, partido de Chiquinho e Jomar naquele ano.

Ainda restam muitas peças soltas. Mas as conexões entre os personagens estão ficando mais claras com o avançar das investigações. Faltam respostas. Nós seguiremos atrás delas, imersos na leitura dos autos de investigação, na cola da polícia, e no pé dos criminosos.

Carol Castro
Repórter

Marília
nuvens quebradas
25.8 ° C
25.8 °
25.8 °
70 %
2.1kmh
63 %
dom
27 °
seg
27 °
ter
28 °
qua
29 °
qui
24 °

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

spot_img
spot_img
spot_img
spot_img

Últimas notícias