Uma reforma de um campo de futebol na capital da Áustria levou à descoberta de uma vala comum romana contendo os restos mortais de mais de 100 soldados que morreram em combate.
A construtora que trabalhava no campo esportivo no distrito de Simmering, em Viena, encontrou um grande número de restos humanos no final de outubro, segundo o Departamento de Arqueologia Urbana de Viena, parte do Museu Wien.
Os restos de pelo menos 129 indivíduos foram descobertos durante escavações realizadas por arqueólogos e antropólogos do museu e da empresa de escavação arqueológica Novetus, informou o museu em um comunicado na quarta-feira (3).
No entanto, estima-se que o número total de indivíduos seja superior a 150, já que as obras haviam deslocado uma grande quantidade de ossos na vala de cinco metros de comprimento.
As descobertas esqueléticas sugerem “um sepultamento apressado dos mortos com terra”, já que os indivíduos não foram enterrados de forma ordenada, mas com seus membros entrelaçados uns com os outros e muitos deitados de bruços ou de lado, disse o museu.
Operação militar “catastrófica”
Após a limpeza e análise dos esqueletos, os pesquisadores descobriram que todos eram do sexo masculino, a maioria com mais de 1,7 metro de altura e entre 20 e 30 anos de idade quando morreram. A saúde dentária era boa, em geral, com poucos sinais de infecção, mas todos os indivíduos analisados apresentavam ferimentos sofridos perto ou no momento da morte.
A variedade de ferimentos, encontrados principalmente no crânio, pélvis e tórax, e causados por armas como lanças, adagas, espadas e projéteis de ferro, sugere que foram sofridos durante a batalha e não como resultado de execução – a punição para covardia militar, explicou o museu.
“Como os restos são puramente masculinos, pode-se descartar que o local da descoberta estivesse relacionado a um hospital militar ou algo similar, ou que uma epidemia tenha sido a causa da morte. Os ferimentos nos ossos são claramente resultado de combate”, acrescentou.
Os ossos foram datados de aproximadamente 80 a 230 d.C.
As armas provavelmente foram roubadas, já que apenas um pequeno número de objetos foi encontrado junto a eles, segundo o comunicado. Os arqueólogos descobriram duas pontas de lança de ferro, uma das quais foi encontrada alojada em um osso do quadril. Vários pregos foram descobertos perto dos pés de um indivíduo. Esses pregos teriam cravejado a parte inferior dos calçados militares romanos de couro, disse o museu.
Uma radiografia da bainha de uma adaga enferrujada e corroída revelou decorações romanas típicas com incrustações de fio de prata. O objeto foi datado de meados do século I ao início do século II d.C.
Também foram encontradas várias peças de armadura em escamas, que se tornaram comuns por volta de 100 d.C., informou o museu. No entanto, eram incomuns por terem características mais quadradas do que redondas, acrescentou.
Uma peça de um capacete romano foi identificada como sendo de um tipo que se tornou comum a partir de meados do século I.
“Estamos impressionados com esta descoberta. É uma verdadeira mudança de paradigma”, disse Kristina Adler-Wölfl, chefe do Departamento de Arqueologia Urbana de Viena, à CNN nesta sexta-feira (4), acrescentando que esta é “uma descoberta única na vida” para os arqueólogos do museu.
“Há evidências arqueológicas de campos de batalha romanos na Europa, mas nenhum do século I/II d.C. com esqueletos totalmente preservados”, disse ela.
Por volta de 100 d.C., cremações ritualizadas eram comuns nas partes da Europa governadas pelos romanos. Os enterros de corpo inteiro eram “uma absoluta exceção”, segundo o museu. “Descobertas de esqueletos romanos deste período são, portanto, extremamente raras”, disse.
“A natureza indigna do local de sepultamento junto com os ferimentos mortais encontrados em cada indivíduo sugere um confronto militar catastrófico, possivelmente seguido por uma retirada apressada”, acrescentou Adler-Wölfl.
Batalha no surgimento de Viena urbanizada
Registros históricos mostram que no final do século I, durante o reinado do imperador Domiciano, ocorreram batalhas custosas na fronteira norte do Danúbio do Império Romano entre os romanos e as tribos germânicas. “Esta é a primeira vez que temos evidências materiais das guerras germânicas” travadas por Domiciano entre 86 e 96 d.C., afirmou Adler-Wölfl. “Antes desta descoberta, só conhecíamos estes conflitos através de algumas fontes escritas”.
“Nossa investigação preliminar sugere, com quase certeza, que a vala comum é resultado de uma batalha romano-germânica, que provavelmente ocorreu por volta de 92 d.C.”, acrescentou.
A expansão romana da cidade de Vindobona, que mais tarde se tornaria Viena, “de um pequeno posto militar para uma fortaleza legionária completa ocorreu nesse contexto”, disse Adler-Wölfl. “Isso colocaria a vala comum em conjunção imediata com o início da vida urbana na atual Viena”, acrescentou.
A investigação inicial pela equipe em Viena fará parte de um projeto de pesquisa internacional mais amplo, informou o museu. Isso incluirá análise de DNA, para esclarecer aspectos sobre a vida dos soldados e suas condições de vida.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br